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Protecionismo e câmbio alto põem em xeque as vendas de Minas aos EUA

Como o Brasil, o estado enfrenta o desconhecido nas relações com o país que se mantém como 2º destino das exportações mineiras, concentradas em minérios e alimentos

 

 

De olho no resultado das eleições nos Estados Unidos, não só o Brasil, mas também Minas Gerais, vai enfrentar dificuldades nas relações comerciais com esse grande parceiro das exportações do estado, independentemente de quem sair vitorioso na disputa pela Casa Branca.

Especialistas em comércio exterior ouvidos pelo Estado de Minas acreditam que conflitos iniciais podem ser vencidos na base da arte da diplomacia, mas temem o risco de a busca de soluções cair no campo ideológico. Outro problema, talvez pior, será nova pressão sobre o dólar já valorizado frente ao real.

Se o dólar alto favorece as exportações, pressiona também os preços no mercado interno. De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Minas Gerais exportou o equivalente a US$ 1,43 bilhão em produtos aos Estados Unidos somente de janeiro a setembro deste ano.

A cifra representou quase 8% dos embarques mineiros ao exterior. O principal parceiro comercial do estado é a China, que respondeu por US$ 7,3 bilhões, participação de 39% na receita total no período.

José Augusto de Castro, presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acredita que haverá dificuldades de relações com Trump ou Biden num primeiro momento, mas que soluções poderão ser encontradas.

No caso de Biden, que não é o preferido do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o Brasil terá que se adaptar e isso traz consequências para as exportações em geral.

“Com a eleição do Biden, o Brasil vai ter que se adaptar a uma nova realidade. Num primeiro momento, teremos dificuldade porque estaremos em campos opostos. Nada que o Brasil não possa buscar uma solução diplomática com os Estados Unidos”, avalia.
Apesar de Jair Bolsonaro ser um grande admirador de Donald Trump, o Brasil não conseguiu obter vantagens em parceria com os Estados Unidos.

Durante a campanha eleitoral, o presidente norte-americano, por exemplo, reduziu a cota de exportações do aço semi-acabado do Brasil, para privilegiar o mercado interno da produção norte-americana. O protecionismo afetou produto importante na pauta de vendas externas de Minas.

Cerca de 35% das exportações do estado, neste ano, foram de minério de ferro e concentrados. O café não torrado concentrou outros 14% da receita obtida pelo estado no exterior, de US$ 18,649 bilhões nos primeiros nove meses do ano. Soja, produtos siderúrgicos e açúcar são outras âncoras da pauta de vendas externas do estado.
Para o analista de política e economia Miguel Daoud, o movimento de Trump de proteger a siderurgia dos Estados Unidos foi natural. No entanto, o analista não conseguiu ver vantagem na parceria entre Brasil e Estados Unidos.

Além disso, o especialista diz que o Brasil precisa, primeiro, ajustar a política econômica, o que, para ele, é o principal problema no momento.

“Ele (Trump) protegeu porque a siderurgia americana não tem a competência da nossa. Os custos lá são muito altos. Ele não tem nenhum carinho pelo Brasil. O carinho que ele tem é exatamente pelo presidente Bolsonaro, mas aí, até agora, não conseguimos levar nada de vantagem em relação aos Estados Unidos. Pelo contrário, nunca fomos beneficiados. Nosso problema não está lá fora. Está aqui dentro”, opina.
José Augusto de Castro preferiu destacar o jeito pouco flexível de Donald Trump. “Com o Trump, ele faz uma coisa e você adere. Não é que você participa. Você adere. Ponto. Ele diz o que você tem que fazer e ponto”, conclui.

O EM pediu um posicionamento de Minas Gerais à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) sobre o impacto das eleições americanas, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Exigências

Na avaliação de Miguel Daoud, o mercado mineiro, assim como o do Brasil, não enfrenta riscos adicionais, independentemente do resultado das eleições nos Estados Unidos, uma vez que os preços de produtos como o café – uma das estrelas da pauta de vendas externas do estado –, por exemplo, são estabelecidos no mercado internacional.

O que pode prejudicar o país, na visão do especialista, envolve medidas de política econômica, sobretudo diante da desvalorização do real frente ao dólar.

“A relação comercial, provavelmente, não será afetada. O Brasil hoje, o risco que corre é exatamente pela questão cambial e fiscal, que podem, sem dúvida nenhuma, levar o dólar para o patamar um pouco mais alto e isso exigir do governo algumas restrições em relação ao mercado externo. Não vejo nenhum risco ao mercado brasileiro, focado na questão de Minas”, afirma Daoud.
Joe Biden, representante do Partido Democrata, se mostrou mais incisivo durante a campanha eleitoral em questões relacionadas ao meio ambiente, citando, inclusive, a Amazônia. Para Miguel Daoud, caso o candidato vença, é natural que haja uma pressão sobre o Brasil na conservação ambiental, mas o assunto deve ser tratado com diplomacia pelo governo federal para não haver consequências.
“O Biden vai bater firme. Nós temos que encarar isso com bastante diplomacia e, sem dúvida, o grande cliente do Brasil é a China, e a China não está nem um pouco preocupada com essas questões. Ele pode fazer grandes exigências ao Brasil, mas não é nada que o Brasil não consiga atender. Se a gente levar para o campo ideológico, podemos ser prejudicados, sim. E muito”, diz.

Chancela ambiental

Para Aline Veloso, coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Minas, assim como o restante do Brasil, não deve enfrentar problemas quanto ao meio ambiente, polêmica que cerca o governo do presidente Jair Bolsonaro no mundo.

Segundo a especialista, propriedades rurais praticam boas práticas que credenciam os produtos nacionais a permanecer no mercado externo.

“No país, temos áreas de preservação nas propriedades rurais, boas práticas produtivas sendo desenvolvidas que nos dão a chancela de estars no mercado internacional, de produzir e comercializar com diversos países do mundo”, garante Aline Veloso.
A Faemg está atenta à sucessão nos Estados Unidos, mas, independentemente do resultado, entende que Minas continuará produzindo itens para o abastecimento interno e externo, mantendo relações comerciais com outros países, incluindo os norte-americanos.
 “É continuar trabalhando internamente para que os produtos feitos aqui em Minas e no restante do país tenham essas chancelas e esse trabalho tão importante.”
Fonte: Estado de Minas – 05/11/2020 04:00

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